liberdade

liberdade
voar,voar...

domingo, 27 de fevereiro de 2011

TEIMOSIA

Teima em mim
a poesia.

Suas teias
sempre me tecem.
Suas peias
me esquecem.

Na sua intimidade,
abraças o mundo.

Na sua expressividade,
lanças as sementes
do profundo.

Teima em mim
a sua dança,
o seu silêncio,
a sua canção
e sua solidão.

Teima em mim
a suavidade da sua força.
A leveza do seu poder.
A natureza do meu ser.

Teima em mim
sua ânsia de expansão.
Sua entrega
aos que, um dia,
também te alcançarão.

Teima em mim
seu coração.

Brinca de rima,
e , assim,
tudo me ensina.

Teima em mim
sua visão.
Seu olhar de mãe amorosa,
de mulher apaixonada,
de menina crescida,
de divindade materializada.

E, teimando,
vais me treinando
pras coisas que não sei.
Pras coisas que sinto
e na quais os outros
também sentirão.

Teimando
vais
se derramando,
me soltando,
me remando-
me desfazendo
e me dissolvendo
no seu mar de linhas.

Teimando
vais me vivendo,
me sendo -
e se eternizando.


Oh, doce e cruel
realidade -
porque não segues
as normas que ditam,
porque não obedeces
aos que te planejam
e pensam que te criam?

Por que te manténs
alheia às ideias
que fazem de ti?
Por que te enches de
plenitude,
sem nenhuma virtude
e na mais pura
e dura vacuidade ?

Onde tua identidade,
tua responsabilidade???

Por que te deitas
e te deleitas
em controvérias e
peripérsias?

Por que te preenches
de surpresas,
de acasos,
ocasos,
desculpas e
inusitados??

Por que tuas respostas
tão certas e tão tontas,
nunca estão prontas?
E me aparecem
erradas,
cheias de nada???

Oh, senhora realidade!
-A vida me condena
à tua suprema liberdade !

LOUCURA

Nessa louca dança
qualquer palavra
se lança.

Nessa louca canção
qualquer ser
emite sua emoção.

Nessa louca visão
o olhar tenta tudo
reter, em vão.

Nesse louco olfato,
cheira-se o conteúdo
do fato.

Nessa louca mente
as idéias se desmentem.

Nesses loucos sentidos
ouço a loucura dos sons
contidos.

Nesses loucos dias,
muita pausa nas causas
e só mais um pouco de poesia


sábado, 26 de fevereiro de 2011

Nenhum sinal
das coisas que virão.

Nenhuma ilusão.

Nenhum farol dourado,
nenhum guia ao meu lado.

Só o inusitado.

Não há ensaios
para o próximo momento.

Não há textos decorados.

Os scripts foram decapitados.

Nenhum ato mais
será premeditado.

Os olhos estão atentos.
Os ouvidos também.

Pensamentos são desvidados
pro além.

A mente tenta se debater.
Quer ditar, reinar,repetir...
controlar o que está por vir...
menosprezar apenas ser,
apenas viver.

Não há mais um destino,
uma missão.

Não há mais o esforço
para moldar o real
Só há sua realização.

Tudo é aprendizado,
nada é ensino.

Assim,reina a paz.







TARDE DE SÁBADO

Nesta tarde suave

o infinito azul se abre



Tudo abraça-

e não há nada

que nos separe



O silêncio do céu palpita

no coração



No ar,

a necessidade serena

da respiração.



Na alma,

a realidade do presente.



Nesta tarde

o mundo caminha contente



E essa é sua realização.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

DESPEDIDA DE SODREZINHO

A vida é tão estranha...
Num momento
nos presenteia
com um novo amigo-
no outro,
o leva para suas entranhas.

As últimas palavras
do meu mais recente amigo
foram poesias...
Morreu entre poetas,
declarando
seu amor


Seu último sarau:
poesia,
despedida
carinho
e
dor.

E eu que mal
o conhecia,
nessa noite
bebi da poesia
da sua transição.

Vi seu corpo
derepente, são -
e derepente se
disfigurando,
se esvaindo,
partindo.

Trouxe partes novas
ao meu coração:
partes novas ,
colhidas em vida-
e partes novas,
colhidas
em sua despedida.

Não consigo
não escrever algo...
Fazer uma homenagem
sincera
ao meu novo amigo,
agora falecido.

Caminhou dentro da poesia,
a viveu,
a semeou,
a recebeu
e a ela agora se adentrou....

Definitivamente.

Que a poesia do Eterno
acolha sua nova face...
Que o berço divino
o acolha
em sua nova
Morada.

Sodrezinho,
a alma, através de versos,
já era sua namorada,-
Vai menino,
Vai com sua Amada!



Vai com ela
sem receios....
acabaram-se
os medos,
os segredos,
os devaneios.

Aninhe-se
em seus doces seios.
E durma em paz.


CANÇÃO SILENCIOSA

Canta,
oh, minha doce alma!
Bebe da água
deste seu dia-
e se oferece.

E, se oferecendo,
mais ainda
se sacia!

Se alimenta
em meu silêncio,
minha luz
e minha poesia.
Faz da paz,
tua música,
tua musa,
tua companhia...

E se inspira!

Oh,
minha doce alma!
Vem .
E, em meu lugar,
respira.

Me dá tua
mão de ternura
e me acaricia
a Vida.
Veste tua túnica
rosada de perfume
e vento-
baila comigo
neste momento.

Vem,
vem além do meu pensamento.
Traz seus raios
de sombras e de luar,
suas brisas de areia e de mar-
e vem cantar.

Pousa teu peito
etéreo,
etérico
no meu,
e me fala de céu
e Deus.

Deita nesse
olhar
que me traz
pra dentro
o munto inteiro.

Brinca
de ser
meu sol

- derrete
os muros
da matéria
e da miséria
que me aprisonam
na escuridão de mim.

Vem, vem cantar
suas mais lindas canções de ninar!
Me deixa dormir
em teus braços,
esquecer meu cansaço
e me deleitar -
sem
Sonhar.

Me ensina
a te ouvir
e a te escutar
por todos os
meus sentidos.

Me acorrenta
em tua praia
e
me liberta
das marés
da superfície.

Vem,
vem
minha alma-
que está sempre
a meu lado.
Vem me viver.

Me faz sentir criança
de novo
e me aninhar em teu colo
de suave de mansidão.
Me traz a esperança
e a certeza
de não ter perdido
nada na vida-
por te
encontrado,
te permitido
e te experimentado.





quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

AVENTURA DE SER

Quem decretou
ser contraventor
aquele
que se divorcia
livremente
da mentalidade
"normal"?

Quem ortogou
a lei
das massas
como
sendo
a natural?

Quem ditou
as
coisas
que se lêem
todos os dias
no jornal?

Quem ousou
robotizar
a vida,
as emoções,
os sentimentos
criando
nomes,
métodos
e definições
pras
infinitas,
únicas,
individuais
e infindáveis
sensações??

Quem
pregou
uma religião
de fora pra dentro?
Quem
nos pregou
numa cruz
que não
nos pertencia?

Quem?
Quem seria??


Talvez
alguém
que não
ouvisse,
não acreditasse
e não
seguisse
seus próprios
sentimentos-
alguém
que não criasse
sua própria
história,
seu próprio
caminho,
sozinho,
e sua própria
música,
dança,
pintura ou
poesia...

Eu não sei.

Não sei
o que é
não ser eu mesma.
Não sei o que é
me conformar
com coisas
que
não me falam
de amor
e de amar.

Não sei mais
seguir padrões.
Não sei mais
ter chefes,
mestres,
patrões.
Não sei mais
pedir opiniões.

Esqueci
o que é
essa tal
de hierarquia.
Misturei
cal e anarquia,
sal e rebeldia,
céu e harmonia
léu e
autonomia.
Virou
tudo poesia.

Eu não sei
quem
me forneceu
SUAS respostas
pras MINHAS
perguntas-
sei que se não me viu,
nem ouviu,
não me serviu.

Não sei quem
me falou
de alguém
que ensinou
tal coisa,
assim
ou assado...
Eu sei
que experimentei
fazer todas coisas
do meu próprio jeito,
ao sabor do vento,
rápido ou lento,
certo
ou errado.

Me dei bem.
Me dei mal.
Não importa.
Eu me dei
de presente
ao Presente.
Eu me fiz
uma nova porta
e me abri.

Chorei e sorri.
Fui feliz e sofri.

Tudo por minha conta.
Afronta?
Não.
Gosto
pela aventura
de SER,
ainda que
nunca me ache pronta.

Tonta?
Sim,talvez.

Não sei.
E não quero nunca saber.

Meu lema
e meu tema
é apenas VIVER.

PERDÃO

Perdão,
meu coração.
Perdão
pelas vezes que tenho te traído
e machucado,
com ou sem razão.

Pelas vezes
que tenho
te negado,
te deixado de lado,
seja pelo suposto trabalho,
seja pela suposta diversão.

Perdão
por não te ouvir,
não te ver,
não te acolher-
e não entender suas propostas.

Perdão por rejeitar
a simplicidade de suas respostas.

Perdão por
querer te enganar.
Por querer te diminuir,
te desprezar,
te desvalorizar,
te infantilizar.

Perdão
por não te amar!

Perdão
por tantas vezes
eu te buscar lá fora,
lá no passado
ou lá no futuro.
Por tantas vêzes
eu te calar,
te abandonar,
te deixar ir embora
e te deixar sozinho
no escuro.

Perdão
pelas vezes
em que não permito
estar disponível pra você,
pras suas verdades
e necessidades.
Por não te dar
quase nenhum direito,
e te encher de
deveres
e conceitos.

Perdão
por não te esperar.
Por correr de você.
Por ter medo
das coisas
que você sempre
tem a me revelar.

Perdão
por te buscar
em minhas crenças,
em minhas preces
e meditações...
mas ,no fundo,
não desejar te reconhecer,
te priorizar,
te expressar livremente.

Perdão
por te criticar continuamente.
Por te condenar
de antemão.
Por querer racionalizar
e normatizar
sua emoção.

Perdão
por não te oferecer,
ainda que seja em vão.
E me fechar.

Perdão!
Perdão meu amigo,
meu mestre,
meu guia,
meu companheiro
e meu irmão.

Por tantos dias
e tantos anos
a te cobrir
de conhecimentos,
de pensamentos,
de desejos,
de carências,
de excessos,
de falsos avanços
e progressos.

Perdão
por minhas mentiras
e hipocrisias.
Por querer manter
uma imagem
disso ou daquilo -
às custas do seu sofrimento.
Perdão
pela minha omissão,
pelas minhas ausências
a cada dia,
pela minha pópria
falta de sentimento.

Perdão
por a todo amor que não declaro,
não declamo,
não conclamo,
não derramo
e não permito.
Perdão
por toda dor que reprimo,
não sinto,
não falo,
não choro
e não grito.

Perdão
pelas minhas vaidades.
Pela minha postura
de sabedoria
e maturidade
a sacrificar
sua ternura mais pura ,
sua dança de criança,
seu riso de menino,
sua loucura de espontaneidade.

Perdão
por pisar nas flores
da sua alegria,
do seu olhar,
da sua vibração.
Por nem deixar você
respirar com profundidade,
nem te dar liberdade,
nem formar com você
uma unidade.

Perdão!
Pela minha falta de gratidão.
Pelas virtudes
que negam sua totalidade.
Pelos pecados que não cometo
apenas por medo ,
pelos julgamentos que faço
da sua naturalidade.

Perdão,
por te dizer não.
Por não de deixar solto
em minha vida
e te negar a imensidão do meu céu.
Por podar suas asas,
te botar numa gaiola
rica e enfeitada
dentro de casa.

Perdão
por ao te cobrar juíso,
te negar
o paraíso.
Por ao não
te fazer tão necessário,
te negar , junto,
inconscientemente,
quase tudo de que mais eu preciso.

Perdão
meu maior amor,
meu grande amante
meu amado e
meu amigo mais importante-
perdão por me fazer indiferente,
frio,
distante.
Perdão pelo descompromisso
de toda uma vida
e de cada instante.

Perdão
pela aliança que não fiz contigo.
pela unidade não permitida,
pela felicidade desconhecida.

Perdão
a esta poetisa
hoje,
aqui,
arrependida,
redimida -
completamente
desnuda,
chorando a seus pés,
diante do meu próprio mundo,
implorando sua compaixão.

Salva-me deste contínuo erro,
deste permanente descaso,
deste consciente pecado
que conservo em meu profundo.

Salva-me em teu seio,
novamente.
E deita-te ao meu lado,
hoje,
aqui, agora
e para sempre!

Que bem-aventurado seja
esse matrimônio perfeito e sagrado!

E que a poesia regue
nosso leito
todos os nossos dias,
como desde muito já tem feito.









segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

ETERNO PRESENTE

Acordo hoje
num horário diferente
de ontém.

Meus olhos
vêem o novo
através das formas
que apenas parecem
ser como antes...
meu coração
bate em novo ritmo,
meus peulmões
respiram um novo ar.

Novos pensamentos
bailam em minha mente,
novos sentimentos
surgem e se vão de repente.

Caminho sob
um novo azul do céu,
as nuvens
não são as mesmas
que ontém estiveram presente.

Meu apetite mudou.
Minha velocidade também.
A temperatura mudou.
O canto dos pássaros também.

Nada fiz pra isso.

O mistério do novo
continua
a me seguir
e a me guiar...

Há sensações novas
por todo meu corpo.
Minha postura mudou
naturalmente.

Não sou o mesmo ser
que ontém fui.
E jamais o serei
novamente.

O ontém terminou.
Quem fui também.
Hoje, apenas sou-
livremente.

Largo os fardos do passado.
Largo os fardos da mente
e da imaginação sobre o futuro.
Largo os fardos pelo chão,
pelo vão dos segundos
onde vivo o mundo

Observo tudo ao redor
e não encontro
as mesmas pessoas
de antes...
e, se as encontro,
elas já se vestem diferente,
já trocaram de olhar,
pensamentos,
sensações
e sentimentos,
tal como eu também.

Não me encontro
no lugar que ontém
eu estava.
Fui retirada
em precisar fazer nada,
querer nada,
buscar nada.

Um novo presente me foi dado!

Meus cães ladram
com novo timbre,
por novos motivos...
Meu telefone
não recebe as mesmas ligações,
as mesmas informações.

No computador,
há novas mensagens.
Nos meus olhos,
novas lágrimas,
nos meus lábios
novas palavras
se compõem...

De quantas mudanças
e transformações
sou apenas testemunha!

As dores de hoje
são diferentes,
os prazeres também...
se parecem,talvez.
Mas tudo é novo
e estou atenta-
pronta pra começar
do zero
mais uma vez.

Novo é esse eu
que em mim se apresenta.
Nova é essa brisa que me toca,
novo é esse amor que me evoca.

Novos são meus gestos
e movimentos,
minha disposição,
minhas idéias,
minha emoção-
chamo de uma nova percepção
isso que chamam
de tempo.

Nova é a poesia,então.

Novas rimas se criam, se juntam
e se esparramam
como novos aromas chegando pelo ar,
de algum lugar-
como novos sabores surgindo,
não se sabe como-do mesmo pão.

A todo instante ,
em mim,
novas ilusões desabam ,
novas barreiras se erguem,
novas fronteiras se alargam,
novos horizontes aparecem,
irrompem novos começos,
surge um novo fim...

Novas profundezas me alcançam,
novos amigos me esquecem,
novos desconhecidos me abraçam,
novos conhecimentos me pedem,
novas teias me tecem,
novos caminhos me traçam...

Novas marés de acontecimentos
invadem meu dia.
Novas propostas surgem,
novas oportunidades se fecham
e se abrem,
novos conflitos se perdem,
novas almas se encontram,
novas centenas de pausas
me refazem
e me levam de volta a correria.

Uma sempre nova tristeza volta,
a alegria dá passagem...
não há mais briga,
nem revolta,
a sempre nova serenidade
também chega
de sua longa e curta viagem-
e me solta.

Um novo silêncio sempre me escolta
e me escuta,
uma nova coragem sempre me aguarda
e excita,
uma nova consciência sempre me olha e cuida,
uma nova experiência sempre me eleva,
aprofunda, alarga,
acalma e agita;

A vida nova me cria e me guia,
me traz e me leva,
me dá e me entrega,
me empurra e me carrega,
me cede e me nega.
Me contrai e expande,
me derruba e me levanta,
me fragiliza e fortalece,
esvazia e enriquece.

O novo me amadurece!

E aparece em minhas células.
em meu sangue,
em minhas veias,
em minha pele,
em meus cabelos,
em minhas formas,
em meu peso,
em minha imagem...

Aparece entre meus neurônios
e suas ligações mais íntimas...
entre meus hormônios
e minhas relações mais profundas.

O novo me habita!

Nos meus ritos,

falas,

silêncios,

escritos,

gritos

ou gemidos.


O novo anda, caminha,

brinca,borda e pinta

em meus rituais,

hábitos,

trabalhos,

idéias,

conceitos

vínculos

e compromissos.

Habita nas linhas do meu rosto,
nas formas do meu corpo,
nas pessoas e paisagens que me cercam -
no meu mundo todo, o tempo todo!

Jamais voltarei a ser feto,
criança,
menina ou
adolescente-
o novo só segue em frente!!!

Jamais voltarei
ao ontém,
jamais partirei
do ETERNO PRESENTE!