liberdade

liberdade
voar,voar...

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Ferimos demais
quando amamos de menos.
Nasci e cresci
totalmente fora do contexto:
sem nenhum pretexto.

SOU A OBSERVAÇÃO

Abro os olhos:
quanta coisa
há pra ver,
observar...

Fecho os olhos:
quanta coisa
há pra ver,
observar...

O mundo
de fora
e o de dentro,
se misturam,
entranham...
E eu ???
Eu sou
a observação
do que vê...
a visão
contínua
do visível
e do invisível
no indivisível



segunda-feira, 24 de maio de 2010

SENDO

Lá pelas tantas
as horas começam
a passar rápido demais.
A impressão
é de que a vida fica maior,
olhando para trás.

Idade??
Dizem...
mas não sei se é verdade.

Sei que um belo dia,
a gente percebe
que o mundo fica mais profundo.
As nuances se tornam
mais importantes que as cores.
As amizades ficam mais
gigantes que os grandes amores.
A felicidade se torna
mais urgente que todas as dores.

Lá pelas tantas
o futuro já não chama tanta atenção.
O presente fica mais presente,
e o passado fica lá, aposentado.

Dizem que é
idade...
mas não sei se é verdade.

Acho que é consciência.
A gente se veste com mais acomodação,
se relaciona sem tanta competição,
evita toda complicação...
esqueçe o nome das pessoas,
perde os óculos nos olhos,
se permite ficar mais à toa.
Se diverte falando dos filhos, netinhos, cães, vizinhos...
se diverte com a feira, supermercado, médico, farmácia,
remédio...
sem tédio.

Quando assusta,
aparece uma ruga.
Quando pensa,
algo despenca.
Mas o coração
se amplia,
se amansa,
começa a pesar mais que a razão.
E a razão vira história,
poesia,
canção.

Lá pelas tantas
a gente acorda-
e descobre que dormiu
40,50,60 anos...
dormiu preocupando,
fazendo,
correndo,
temendo,
sofrendo...

A vida não foi feita pra nada disso.
Viver é o verdadeiro compromisso.

Mas só lá pelas tantas
a gente percebe
que dormia acordado:
fazendo,fazendo,fazendo-
e a gente realmente fazia,
mas quase naõ era, nem vivia.

Lá elas tantas
a vida fica
e nós nos vamos...

E eu quero ir,
vivendo.
Acordando
de todos os meus sonhos e pesadelos:
SENDO.


sexta-feira, 21 de maio de 2010

AO SEU SABOR

Poesia
é uma visita inesperada,
brota sempre do nada -
insiste e fica.

Às vezes inaugura
meu dia.
Às vezes o encerra.
Mas na maioria,
o dilata
e dilacera.

Às vezes se anuncia -
raramente...
desce do tal inconsciente,
de repente.

Às vezes vaza
pela madrugada.
Outras,
em plena correria,
me pára
e bota sentada.

Ela é inteira ditadora.
Não pede licença,
nem passagem.
E nem se importa
se estou ocupada
ou indisposta.
Vem,
senta
e pronto.
Incomoda
e se acomoda.
Vira meus planos do avesso,
revira minhas horas
e esvazia minha agenda.

Ela se cria!

Sou só esse instrumento,
obediente,
quieto,
treinado...
Com a mente e o peito
vulneráveis,
abertos...

A personalidade ,
lentamente,
se desfaz...
Surgem novos
eus desconhecidos
pelas linhas...
que nem sei
onde,
como
ou porque abrigo!

Mundos surgem...
me inspiram,
contornam,
aprofundam,
elevam,
transcendem...
Simples,
complexos,
completos e naturais,
repletos de paz...

Paz
de muitas expressões.
Paz
de muitos versos...
Paz
de um silêncio
que fala
através de mim -
e que fala assim:
rimando,
rindo,
chorando,
brincando,
pensando,
sentindo,
transmitindo
e transbordando.

Poesia
é minha pátria,
minha linguagem,
minha família,
meu trabalho,
minha vida.

Ela é.
Eu,não.

Cedo,
sem querer,
sem nem saber,
lhe entreguei
meu ser -
ao me dispor,
a seu sabor,
a escrever...



quinta-feira, 20 de maio de 2010

LOUCURA VERDADEIRA

As pessoas são loucas...
A vida é louca.
Loucura é o natural...

Louca é a mente,
o amor,
a fé,
o natal.
As explicações
pra tudo que é
e que não é.

Louca é a arte,
a poesia,
a dança,
a pintura...
A criação
é criança:
brinca de loucura.

Louco é o sexo,
a reza,
as relações,
as comunicações...

Louco é o simbolismo,
o capitalismo,
as transformações,
o tempo,
os sentimentos...

Loucura é a história,
cheia de projeções,
suposições...
A ciência
em suas experiências,
seus testes,
suas teses
e conclusões.

Louco é o homem,
o bicho que pensa
e inventa...
que imagina,
morre
e vira terra.
O bicho que gera,
cria,
envelhece
e de tudo esquece...

A loucura é universal,
astral,
animal,
social,
cultural e individual...

Simples e complexa,
difusa e completa,
errada e certa.
Infinita e aberta...

Louco é o eu
que nem sabe porque,
como, nem pra que nasceu...

Louco é o mundo inteiro,
tão breve, passageiro...
e nem por isso menos verdadeiro.




terça-feira, 18 de maio de 2010

A VIDA PROSSEGUE

A vida se reinicia
e se cria.

Num momento,
num sentimento,
numa emoção...
numa linha vazia
que se transforma
em poesia,
melodia
ou canção.

O nada vem
e também
telefona,
convida,
visita,
abre,
emociona,
excita.

E daí o novo
se anuncia
e entra em ação,
eternamente.

Um óvulo e
um espermatozóide
inconsciente,
descem de
algum asteróide
do impermanente
e se fecundam
justamente
no útero
de uma mente,
de um coração,
de uma imaginação.

Nasce, então,
uma nova expressão.
Tudo continuamente...

Uma forma
única e diferente
aparece,
parece,
a cada segundo,
aos milhões .

Pronto,
o velho mundo
vira do avesso,
girando
sempre no recomeço.

A terra,
o cosmos,
o natural
é a única
e verdadeira
mãe original.
Vendo suas miragens
refletidas
em mil imagens!

A vida
tão maior,
tão absurda,
nunca mata,
nem morre:
só muda
e prossegue!






terça-feira, 11 de maio de 2010

MANHÃS

Ah,
essas manhãs tão ternas,
tão tenras,
tão terrenas,
tão plenas...

Tão espaçosas
e luminosas,
cheias de formas
e figuras,
cores e texturas.
Tão quentes ou frias,
duras ou macias...
Manhãs minhas
e suas.
Vestidas,
mas ainda asim,
nuas.

Manhãs de vida
e poesia.
Sol e chuvas.
Encontros e procuras.

Manhãs eternas
e instantâneas,
que viram tardes,
noites e madrugadas
espontâneas!

Manhãs que nos transformam,
nos transportam,
nos levantam,
convidam,
sacodem,
encaminham,
encantam...

Manhãs que me olham,
sentem,
compreendem,
abrigam,
amam...

Manhãs
em que flores se abrem,
sementes nascem,
doentes se curam,
pássaros aos ares se lançam,
e cantam.
Seres se confiam
ou se traem...

Manhãs contínuas...
Cheias de paisagens,...

Visitantes de minhas vistas,
perfumadas de orvalho
e brisa.

Manhãs,
ricas manhãs...
Preciosidades da
Vida!
Milagres
de aquarelas que nunca se repetem...

Oportunidades
que todos os dias
me enchem de saudades

TRAVESSURAS

Eu venho do infinito.
Trouxe um corpo
e um rosto
bonito.

Trouxe uma voz rouca,
uma mente louca,
um pouco de pó
e matéria,
de luz e miséria.

Trouxe uma alma
entranhada.
E mais nada.

Vim de um vôo infindável
pelo coração do vazio.
Nasci de um cio.

Cresci por acaso.
Adentrei em um tal ovário.

Não uso nenhum escapulário.
Rasgaram meus retratos.
Me deram uma história
e eu a transformei em memória.

Mas sei de onde vim:
De um começo sem fim.
De um mistério
que chamo de "mim"...
E o perpetuo assim...

Esqueci tudo
que vim fazer e ser.

Larguei não sei onde
meus limites e horizontes.

Moro na Fonte
que fica dentro,
detrás e defronte
a você...

Não vou demorar
nesse chão.
Meu coração
vai parar e morrer...
Não vou mais respirar
e vão me enterrar.

Vou voltar pra casa
que nunca deixei.
Ser o que sou
e desaparecer.

Eu vim do infinito...
de onde nascem as poesias,
as canções e cores,
onde vivem todos os amores,
onde encontro todos que perdi
e despossuo tudo que possuí...

Vim de lá
pra cá.
À toa,
numa boa...
Brincar de ser gente,
de inconsciente
de coisas sem valor:
de sentir ,
sofrer,
parir,
comer,
pensar,
sorrir...

Vim do vão entre as estrelas
e elétrons.
Do centro e do periférico.
Dos fótons e protóns,
sem destino nenhum...

Vim abrir um caminho
entre os neurônios,
fazer um ninho de espaço
entre os sonhos.
Viajar nas noites que durmo
e acordar nas manhãs com nomes.

Vim sozinho.
Anexado em uma célula,
parecido com uma libélula.

Trazendo a loucura do cosmos,
rompendo a sensatez dos lógicos,
dos astrônomos e astrólogos.

Fazendo o que a Vida sempre fez
e faz:
Travessuras!!!



ONDE ME ESCONDER

Onde vou me esconder
de você?
Em que sentimento,
em que lugar,
em que momento??

Onde
você vai me procuar??
Onde vai me achar?
Como vai
me reconhecer,
se você
ainda não sabe me ver,
me revelar????

Que subterfugios
terei que usar?

Com que roupas
terei que me encobrir?
Em quantas faces
vou sorrir e chorar
até você me notar??

Quantos poemas
terei que escrever?
Quantos amores
terei que editar??

Quantas preces
necessito fazer?
Quantas meditações,
pra te esquecer?
Quanta confusão
pra me meter??
Quanta confissões???

Onde poderei me esconder?
Senão em você???

segunda-feira, 10 de maio de 2010

IDENTIFICAÇÃO

Quando fui uma criança,
meu mundo era outro...
feito de poucas pessoas
e muita imaginação,
repleto de sonhos,
canções, rodas, danças -
brinquedos,
livros e disquinhos de histórias,
jogo de vareta, de memória...
pegador,pique-latinha,
esconde-esconde,
e um monte,
um monte,
de esperanças...

Crises de bronquite,
amidalite, gripe.
Malditas e infindáveis injeções
e vacinas...
Pra mim,
tortura e chacina!

Ir na marra ao dentista,
implorar pra ir na chácara,
no carnaval,
no rio,
sítio,
e piscina...

Meu corpo também era outro,
bem menor do que tenho agora.
E, nele, as emoções
e as questões,
eram gigantes
que me tomavam
em seus braços e me levavam-
pra cima e pra baixo,
pra fora e pra dentro,
pra dor e pro amor...
pro riso e pro choro,
pra euforia e pro desespero:
uma boneca quebrada,
um irmão pentelho,
pais que esbravejavam,
uma prima mais bonita e arrumada,
a falta de um enfeite no cabelo...

Tudo era tão intenso,
vivo
e presente!
Parecia tão perene...

Qual nada!
Cresci mais um tantinho
e virei adolescente!
Quase derepente!

Que novela mexicana!
Haja drama:
" Ela ganhou um presente mais caro!"
"Ele comeu um bife maior!"
"Papai vai saber!"
"Vou contar pra mamãe"
"Me dá...é meu..."
"Você vai ver..."

Dê-lhe choros,
berros,
socos,
palavrões,
provocações...
Era de praxe eu ficar empacada,
emburrada,
de cara amarrada...

E dê-lhe sermões,
surras,
puxões de orelha,
palmadas,
beliscões...

O mundo foi então
crescendo comigo,
junto com todos os sins,
talvez e nãos.

Vieram os
professores,
grupos,
amigos,
turmas,
paqueras,
ídolos,
...
estudos,
esportes,
romances,
sexualidade,
festas,
...
bares,
cigarro,
bebida,
carro...
mil coisas a surgir!
As tais responsabilidades...
Não tinha mais tempo
nem vontade de dormir.

De novo,
derepente me avisaram
que já era adulta !

Tinha que ser assim e assado,
fazer isso e aquilo ...
um crime TENTAR
pensar,
sentir,
querer,
fazer,
SER diferente!

Um inferno,
interno e externo!
Quase tinha que exorcizar!

Era pra formar,
trabalhar,
dar duro,
ralar...
ganhar dinheiro,
economizar e
pensar no futuro.
Não podia mais nem engordar...
Tinha que ser magra,
séria,
inteligente,
bem-humorada,
atraente,
educada
e culta!
SEMPRE!

O roteiro,
as regras,
o script-
tudo já vinha pronto!
Era só obedecer e seguir...

Ah,
escolher meu bendito ofício,
naõ ter vício,
fazer sacrifício,
(tudo-credo- tão difícil!)

Não esbravejar,
naõ esmorecer,
amar,
não responder,
rezar,
confessar,
comungar,
ajudar em casa,
ter o tal do juízo (?)
e não ser oferecida,
assanhada,
atrevida-
ou qualquer coisa parecida.

Fazer como fulana,
ser como beltrana
ouvir sicrana...
visitar não sei quem,
não falar não sei o quê,
não perguntar porquê,
fingir que tá tudo bem,
e, ainda por cima,
não mentir-
e não pecar também...

Queriam,
consciente
ou inconscientemente,
me matar definitivamente!!!

O mundo então ficou mais duro!
Mais perigoso,mais
desconhecido e
inseguro!

E eu tinha que dançar
conforme a música que os outros tocavam...
viver no ritmo alheio,
importar com o que falavam...
Saber tudo decor!
Terrível!!!

Também tinha que brilhar,
ser bem sucedida,
formar,
ser imaculada, falsa,
dissimulada,
interesseira e calculada-
sem,claro, demonstrar!
Ensaiar o que dizer,
o que vestir,
como comportar...
Resistir às tentações...

Ser espontânea???
JAMAIS!!!

Ah,
e nunca, NUNCA explodir!

Era pedir demais!

Cristo, valhei-me!!!
Crescer foi uma luta,
uma guerra cruel
onde a lei era ser
a mim mesma
totalmente
e continua
e constantemente,
infiel...

Imposições e mais imposições,
cobranças,
pressões,
exigências,
projeções,
introjeções,
transferências...
delícias pra levar
aos borbotões,
anos depois,
pras "n" seções de terapias...

Enfim,
ufa!
Sabe Deus como,
cheguei aqui!
Estou onde estou!
Sou o que sou!

20 anos pra me fazer adulta,
20 anos pra me desfazer dessa louca armadura e armadilha-
pra me desvencilhar
de tanta receita, teoria,esquema,
meleca,estrategema.
7 pra renascer, fluir e brindar!

Total:47
Campeã das milhares de vêzes em que me perdi de mim
Miss eterna do meu universo côncavo e convexo
Modelo supremo de ser eu mesma.
Atriz, mãe, poetisa,autora, escritora,terapeuta,arteira e artista!
Vencedora de centenas de "big brothers" reais:
recebendo meus milhões em forma de profundas respirações...
Sobrevivente do holocausto familiar-religioso-cultural-social dos seres,
de sua essência e natureza.

O mundo virou cósmico, então!
Minhas personalidades,
sempre pequenas,
como todas são,
parecendo adultas ou não,
desapareceram entre sóis e estrelas...

Esse eu de quem falo
é apenas uma pálida manifestação,
um personagem
criado pela mente
que nunca conteve,
não contém ,
e nunca conterá
TUDO QUE EU SOU REALMENTE...
É apenas uma breve,
muito,muito breve
identificação!












segunda-feira, 3 de maio de 2010

CAMINHANTE

Esse eu está sempre de malas prontas,
viajando pelos momentos,
carregado pelo vento,
tocado pelo sol,
repousado nas sombras
de cada pensamento,
banhado nas águas
de cada sentimento...

Sem passaportes,
sem documentos,
sem carruagens...
morre, segue e fica
dentre as paisagens...

Esse eu que são tantos!...
Tantas árvores e pássaros,
flores e nuvens o formam,
tantas sementes se juntam nele,
nesse seu canto,
por enquanto,
enfeitado de noite e dia,
luta e poesia.
.

Tantos eus que não me pertencem,
aparecem e se dispersam
nesse céu infinito chamado vida.
Tantos eus se expressando
em faces e fases
que vivem e morrem
serena e eternamente...

Que digo? que faço?
que sou??
nada,tudo,
ninguém...
outros também.

Um rastro ,
um traço,
um passo...
Um caminho,
uma mensagem,
uma imagem.

Unidade que dança,
anda,
pensa,
sente,
brinca,
briga,
vai e vem.
Aparentemente.
Humanamente.
Naturalmente.

Nada o detém.

Criação da mente.
Ser sendo.
Inventando o mundo.
Despindo o profundo.
Abrindo o coração.
Derramando,
chorando ou sorrindo.
Prosseguindo...

Andarilho sem terras,
sem eras,
sem posses
e sem identidade.
Longe de qualquer definição.

Andarilho
sem chão,
sem trilho,
sem direção.

Caminhante...
Irmão do
amor e da verdade,
dois pereginos
sem pousos,
pausas
e destinos.